Será
difícil para mim fazer o que vou fazer agora, mas não vou me eximir.
Considerando que já bastam basta (1) de tantos erros, e que se livros, monografias e textos
importantes continuar a serem continuarem a ser (2)
tratados sem o devido cuidado, vai vão (3) continuar
ocorrendo, para os donos dos escritos, situações vexaminosas como as que tenho
observado.
Pode de
fato não ter nada haver nada a ver (10) uma coisa com a outra, mas um amigo meu garante que isto isso
(11) se (12) sucede por que porque
(13) todos tem têm (14) um primo que, supostamente, entende de português, e revisa
de graça. E senão se não (15) é um primo é um amigo, um vizinho, uma tia... Tratam-se Trata-se (16) das
chamadas revisões caseiras!
Agora o
quê que (17) eu quero é ver o tal primo revisar esse este
(18) texto e encontrar todos os 23 erros de concordância,
regência, semântica, sintaxe e ortografia! E se por
ventura porventura (19) o primo se (20) acovardar, da próxima vez
não lhe o (21) chame, tão pouco tampouco (22) ao
vizinho, chame ao o (23) Cruz!
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Importante: Todos os que leram este texto, sem exceção, "corrigiram" a frase "Será difícil pra mim fazer o que vou fazer agora". Tiraram o "mim" e puseram o "eu". Trata-se, aí, de um caso bem específico, e acho que ESTE ARTIGO que escrevi vai esclarecer por que se deve usar o pronome "mim" e não o "eu" nessa situação.
1) o
verbo bastar não concorda com o sujeito “erros”, simplesmente porque “erros” é
objeto e não sujeito da oração. Essa oração não tem sujeito.
2) nas
locuções verbais o verbo que sofre a flexão é sempre o auxiliar, que sempre
está à esquerda do principal.
3) a oração
que está entre vírgulas (“para os donos dos escritos”) é um aposto explicativo,
que pode ser dispensado para fins de análise. Tirando-o para analisar a oração
principal, a enxergamos claramente: “vão continuar ocorrendo situações
vexaminosas”. Ocorre que ela está na ordem inversa, o que dificulta ainda mais. Colocando-a na ordem direta, temos,
enfim, isto: “situações vexaminosas vão
continuar ocorrendo”; o verbo “ir” fica no plural “vão”, concordando com o
sujeito “situações”.
4) “Contudo”
é uma conjunção de contraposição, correta para o uso onde está. “Com tudo” é
uma locução, similar a com pouco, com nada...
5) “Faz
mais de 3 anos” e não “fazem”. Oração sem sujeito. “3 anos” não é o sujeito da
oração. Fazer no sentido de tempo ou fenômeno da natureza sempre ficará imóvel na 3ª do singular. "Fez dias chuvosos"
6)
Aqui, o pronome relativo “que” é o mais adequado.
7) O
verbo haver no sentido de existir, em qualquer tempo verbal, é invariável, fica
sempre na terceira pessoa do singular. “Motivos” aqui não é sujeito, mas objeto
direto. A oração em questão não tem sujeito.
8) vide
(18)
9) O
verbo “contratar” acompanha o tempo verbal da oração, que está no pretérito.
Simplificando o período, vemos claramente: “houve motivos suficientes para que não me contratassem”.
10) “nada
a ver” é uma expressão clássica, que não tem nada a ver com o verbo haver.
11)
vide (18)
12) Algo
sucede, e não “se sucede”. Suceder não pede pronome, como suicidar, por exemplo,
que é verbo pronominal, e que só se conjuga com pronome. (vide 20)
13) "Porque" aqui é conjunção, palavra única = pois. Esta minha postagem pode ajudar a compreender: Os 4 porquês
14)
Ele tem; eles têm. Na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, o
verbo ter leva acento para se diferenciar da terceira do singular.
15) Aqui
é “se não” = quando não, função de conjunção condicional.
16) Não
há sujeito na oração em questão, por isso “trata-se” e não “tratam-se”. Aliás,
essa expressão é invariável, sempre.
17) O
pronome “quê” acentuado, portanto tônico, só é usado em final de períodos,
antes de algum tipo de pontuação; nas outras situações usa-se “que”.
18) Este,
neste, deste, isto e similares são adequados para se referir a coisas ou seres em
posse direta ou próximas de quem fala/relata: “revisar este texto é difícil”, “este país
anda péssimo”, “neste momento estou digitando”. Já esse, nesse, desse, isso e
similares se usa para referências a coisas ou seres que estão distantes,
situações vagas e subjetivas: “esse computador que você tem à sua frente”; “esse
tipo de serviço é péssimo”; “um amigo garante que isso não pode”, “desse modo não há quem resista”.
19)
Porventura é palavra única, advérbio = por acaso. Por ventura é uma locução de uso raro, talvez numa frase assim: "por ventura achei dinheiro no chão!" = por sorte
20) O
verbo acovardar é pronominal, pede pronome (inverso do caso 12).
21) vide
(23)
22)
Tampouco é advérbio = também não.
23) Caso
de regência. Verbo chamar. Quem chama, “chama alguém”, não “a” alguém. Por não
exigir preposição para a introdução do complemento, é chamado verbo transitivo
direto, e o seu complemento objeto direto, representado pelo pronome “o”, no
caso. “Chame o Cruz” = “Chame-o" ou, na fala familiar: "chame ele”. Errado é: "lhe chame”, “chame ao Cruz” ou "chame a ele".
Para finalizar: Todos, sem exceção, "corrigiram" o título, e o reescreveram assim: "Faz-se revisões". O correto é como está lá. É o caso clássico da passiva sintética; jogando para a voz passiva vemos claramente:
Fazem-se revisões = Revisões são feitas
Alugam-se casas = Casas são alugadas
Revisões é o sujeito, e o verbo deve sempre concordar com o sujeito. O problema é que quando o sujeito está posposto ao verbo, situação de certa forma incomum, dá a impressão para o leigo que a oração não tem sujeito, o que faria o verbo ficar invariável. Por isso é que, para saber revisar um texto, há de se conhecer sintaxe, a parte mais difícil do português. Quem quiser se aprofundar nisso, leia este artigo do profº dr. Cláudio Moreno, meu ídolo: Concordância com a passiva sintética
Dúvidas e troca de ideias, me escreva!
cancruz@terra.com.br
Fazem-se revisões = Revisões são feitas
Alugam-se casas = Casas são alugadas
Revisões é o sujeito, e o verbo deve sempre concordar com o sujeito. O problema é que quando o sujeito está posposto ao verbo, situação de certa forma incomum, dá a impressão para o leigo que a oração não tem sujeito, o que faria o verbo ficar invariável. Por isso é que, para saber revisar um texto, há de se conhecer sintaxe, a parte mais difícil do português. Quem quiser se aprofundar nisso, leia este artigo do profº dr. Cláudio Moreno, meu ídolo: Concordância com a passiva sintética
Dúvidas e troca de ideias, me escreva!
cancruz@terra.com.br
Cesar Cruz
Jun 2014
Excelente, Cesar!
ResponderExcluirAbração,
Betty
Obrigado, Betty!
Excluircesar me liga 991780930
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